LONGE DO CÉU
Tenho metade do ser
impresso n'outro lugar,
e digo, não sei fingir,
tenho saudades de lá.
Qualquer dos dois tem luar
e a vida passa também;
eu que não soube brincar,
sempre buscando o além,
queimando a vela estraguei,
me destruindo a granel;
hoje carrego esse andor
que tento por no papel;
e tudo em mim arde até
escalpelar-me o ser;
dilacerar o pensar,
desafiar o saber;
vontade grande que dá
de berrar esse vazio;
vêm-me palavras no ar;
quedam-se n'água do rio
que inundou o meu sol,
e arrastou o meu bem;
que devastou-me o amor
e derrubou-me também.
Eis que meu lar se perdeu,
foi parar no beleléu:
um reino fosco e lilás
que fica longe do céu.