A Resistência
A princípio,
Digo-te!
Não estou preparada.
Mesmo que venhas de mansinho e me tome pela mão
Mostrando as delícias de teu estado,
Afirmo-te, não a quero!
Mesmo que chegues ao meu ouvido dizendo,
Que és sabedoria, calma e solidão,
E eu necessite desse tríduo,
Ainda assim, não me preparei.
Deixas o corpo cansado, os olhos sem brilho,
A boca ressecada, a pele sem lustro,
A inevitável aparência!
Não a quero ainda!
Quero olhar à minha volta e perceber sorrisos,
Sentir o doce mel das paixões,
Ter o contato amigo de mãos que se entrelaçam
Ávidas para se fazer notar.
O suspiro do último gozo,
O ficar na horizontal, abraçados.
Como se o mundo se restringisse a este espaço e movimento.
Correr pela praia ao sol,
Deixar que o mar me possua com sua espuma.
Rir como criança com as coisas simples da vida.
E à noitinha,
Poder sentir o medo dos fantasmas que existem em mim.
Quero olhar com paixão,
Todos e tudo que me toca.
Olhar o nascer e o pôr do sol
Como se fosse a primeira vez,
Num alumbramento de espera ao primeiro amor.
Não, amiga!
Não a quero neste instante,
Apesar de saber que és definitiva,
Inevitável!
Sim,
És a amiga derradeira,
Aquela em que se compraz o instante supremo
De se saber grande, e ao mesmo tempo,
Pequena.
Não a sinto triste mas também,
Não a vejo com alegria.
Onde todos os meridianos do meu corpo
Desembocam para um marasmo,
Transformando meus gestos em lentidão.
Alguém me disse: “Tens que a aceitar”.
Ela vem, inevitavelmente vem.
Mesmo que a recusa seja efetiva,
E que meus olhos não a queiram olhar,
E os meus sentidos mais profundos a rejeitem,
Ela virá.
E nessa determinação contínua,
Tomará cada ponto do meu universo
Lentamente,
Sorrindo,
Por ter mais uma filha que abraçará
Eternamente!