Conto Surrealista
Ele despertou na selva de pedra
Nem bem há Sol, nem há chuva
Contempla a madrugada na janela
Mas já não sente emoção alguma
Até mesmo sua tristeza apagou-se
Por absoluta ausência de motivo
Já que o anoitecimento do amor
Dos males da vida é o pior castigo
Não haverá um minuto de silêncio
Nem tocará um blues sentimental
Só reina a selva densa de cimento
Em que somente o anonimato é real
As pessoas sem rosto, inanimadas
Nunca trazem nada nem nada levam
Nem os róseos raios da alvorada
Podem iluminar suas almas em treva
Pouco importa o nome dessa cidade
Seja Nova York, São Paulo ou Tóquio
Cartaz luminoso não é luz de verdade
E sim um simples simulacro ilusório
Longe do aconchego o coração lateja
Esse homem tem o Saara dentro de si
Cercado de companhias que não deseja
Entra num museu para fugir dali
Relaxa sua musculatura tensa e dura
E a seco toda a amargura engole
Mergulha fundo na colorida pintura
Some num quadro de Van Gogh.