Porque Tudo É Triste Como Saudade
Porque tudo é saudade e nostálgico como tudo.
Se hoje há mais gente no mundo, antes parecia ter bem mais;
Se ainda sou jovem e tenho, aparentemente, muita vida pela frente
Tenho sempre a sensação que antes havia mais vida, digo, antes que eu tivesse vida.
Olho para história com uma saudade absurda e o que me aflige é não ter vivido para ter saudade alguma.
Mas também me dói o ontem quando eu já respirava;
Hoje na minha rua só há estranhos e saudade
O Seu Júlio da casa grande e amarelada do final da calçada, mudou de plano, assim também fizera a Dona Rute
Outros amigos se mudaram, meu cachorro já é outro e depois dele haverá outro, mas sempre com menos vida que o primeiro e com menos saudade.
Parece que eu moro em outra casa, mesmo eu estando na mesma casa há vinte anos;
O sofá é outro, as paredes que já foram de um azul calmo e infindo, agora são bege como a pele morta.
Ah, por que tudo é saudade se eu nem vivi tudo ainda?
Gosto mais das músicas antigas, dos poemas antigos, dos carros antigos, dos amores antigos, da ausência antiga e interminável que não sei mensurar;
Me posto indeciso e triste sem razão de ser triste só por não compreender que as coisas mudam mesmo que paradas, mesmo que imóveis e inertes, as coisas tendem a mudar;
E que a vida se gasta de tanto que se poupa, que amanhã terei mais saudade ainda do que tenho hoje e que cada dia terei mais e mais, até que eu vire saudade para alguém e a saudade em mim por fim morra.
Thiago Lara