Primeiro dos últimos
Esse é um dos últimos, eu sinto
acabar a tinta de artista.
A inspiração está expirada,
eu já não sinto é mais nada.
Eu sou um prodígio das coisas complexas
e um fracasso das coisas da vida.
Com(o) um gênio retorcido e indisposto
que dá aula, mas precisa de reforço.
Eu lutei contra o mundo e perdi.
Eu quis, e eu pude, mudar tudo.
Mas ele mudou tudo em mim,
e agora eu já não posso e nem quero.
Outrora quis operar meus olhos, mas já não vejo assim.
Há uma miopia muito maior em mim.
Agora quero a visão desfocada, incerta e infértil.
Onde há luzes bonitas lá longe e não dá pra enxergar
os rostos decepcionados.
Desaprendi a rimar e amar.
Aguaram com carinho, mas não dei frutos.
Não me fizeram nada errado,
houve tanto amor e cuidado,
pra crescer um brinquedo quebrado
nas mãos do mundo.
A caneta já não pega
quando esfrego nas mãos.
Só sai pranto, poema pronto,
prato feito, um desfeito.
Tá tudo bem? Tá tudo perfeito.
Eu vou me juntar aos meus heróis.
Em breve, e sem realizar nada.