Azia
Arremesso os meus dias, um a um,
Em uma imensidão de fezes,
E em meio às moscas varejeiras,
Já não me importo com o zumbido.
Perdi a relutância, o crivo, a inconformidade;
Meus sonhos escrevi a lápis,
E com minha própria borracha medrosa apaguei.
A única pretensão que me resta
É ter algumas horas de sono,
Pois dormindo não sinto o cheiro das fezes,
Não ouço o zumbido das moscas,
Tão pouco enxergo meu fracasso.
Talvez, se eu fosse um vaso de adorno,
Um objeto irrisório, um ser ínfimo;
Talvez, se eu fosse o colete salva-vidas do avião,
A opinião de um especialista, o par de botas do aleijado.
Ou então, se eu fosse a promessa de um político,
A esteira ergométrica de um paralítico, a revolta dos conformados.
Quem sabe assim, e só assim, eu tivesse mais razão de ser.