Azia

Arremesso os meus dias, um a um,

Em uma imensidão de fezes,

E em meio às moscas varejeiras,

Já não me importo com o zumbido.

Perdi a relutância, o crivo, a inconformidade;

Meus sonhos escrevi a lápis,

E com minha própria borracha medrosa apaguei.

A única pretensão que me resta

É ter algumas horas de sono,

Pois dormindo não sinto o cheiro das fezes,

Não ouço o zumbido das moscas,

Tão pouco enxergo meu fracasso.

Talvez, se eu fosse um vaso de adorno,

Um objeto irrisório, um ser ínfimo;

Talvez, se eu fosse o colete salva-vidas do avião,

A opinião de um especialista, o par de botas do aleijado.

Ou então, se eu fosse a promessa de um político,

A esteira ergométrica de um paralítico, a revolta dos conformados.

Quem sabe assim, e só assim, eu tivesse mais razão de ser.

Pedro De La Rosa
Enviado por Pedro De La Rosa em 04/08/2017
Reeditado em 03/01/2024
Código do texto: T6074391
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.