O Bêbado

Deitado às margens da rua,
mísero espectro de homem, sem vintém, muito além,
repousa envolto no manto da noite crua,
à espera, na penúria, por um cúmplice amém.

Se embriaga a fim de afastar,
o sofrer em seu leito indigente,
do triste ardil do não amar,
queda-se, inconsequente, dormente.

Amor, amargor, injusta quimera,
urge exaltar a dor que o fez berrar,
despido do fulgor que então tivera,
ilidir no etílico, o incauto e idílico clamar.

Prostrado no lastro da grua à beira-mar,
inocente e jacente, augúrios de Belerofonte,
delirium tragam-no consigo a fim de liquidar,
a besta que se mostra na cúpula do horizonte.

Inebria o pálido semblante, a triste mente,
sofrida e então vergastada,
aquela que atormentadamente,
roga ainda que inconsciente, pela face da amada.


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Marcus Hemerly
Enviado por Marcus Hemerly em 03/08/2017
Reeditado em 15/12/2017
Código do texto: T6072935
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