Descansem em Paz
"Deus_ acabe, eu te suplico, com este meu insuportável sofrimento";
“Às vezes, o adeus é a única saída que podemos ter neste mundo”;
A dor é um imenso rio que não afoga os vis despojos de meu corpo;
Minhas lágrimas silenciosas são colhidas por um deus solitário,
O mundo é triste e maquiavélico e o nosso fingimento me agoniza,
Quero mergulhar na luz e na paz, mas tudo são teatros e maldades.
"Estou farto das tensões, de fomes, de carnificinas, de tantas injustiças";
Minhas canções gritadas no palco amenizam os meus sofrimentos,
As multidões cantam comigo e não enxergam o que sinto e oculto,
Meus sorrisos e brincadeiras são máscaras que todos pensam enxergar,
Retorno para dentro de mim e meus lares estão tristes e sozinhos.
É insuportável a sensação de ser descartado e abandonado,
"Chorando por si mesmo em uma família desunida que tanto amamos",
Várias angústias engarrafadas prestes a explodir no âmago da alma,
Jesus dorme tranquilamente enquanto os nossos barcos naufragam.
Eu bebo e me drogo nas festas e até consigo esquecer de minha vida,
O sol nasce e todas as angústias de meu ser se acendem como velas,
Saio do quarto e abraço meus filhos e minha linda esposa_ sou feliz?
Minha felicidade é uma esquizofrênica dramaturgia em todos os lugares!
Tenho amigos verdadeiros que amo e sempre sorriem em meu íntimo,
Milhares de fãs, dinheiro, viagens, família, realizei os meus sonhos,
Lutei pelo que acreditava, provei a mim mesmo que tudo é possível,
Mas os fantasmas estupradores do meu passado são subjugadores.
Meu Deus_ exorciza de minha alma os demônios de quem não sou!
Expurgar de meu corpo os pecados que aprisionam a minha mente!
Abjuga o meu corpo de todos os jugos e cativeiros que me aprisionam!
Liberta-me de minhas mãos, liberta-me das penumbras do cotidiano!
Decepcionei tantas pessoas que esperavam mais força e amor de mim,
Eu lutei todos os dias para vencer as depressões de meu mísero ser,
Eu combati todos os inimigos e filisteus gerados por meu subconsciente,
Porém meu corpo está tão exaurido nesse vasto universo frio e doente.
E alguns dirão: “sofreu bastante, mas agora está finalmente em paz!”
O que é estar e viver em paz? É o vácuo de conflitos, infernos e guerras?
A morte é o vácuo de ontem e de todos os dias a nos dizer: nunca mais.
A eternidade estará de braços abertos para quem a espera e a merece.
Ser eterno pra quê? Viver eternamente em qualquer lugar pra quê?!
E alguns dirão: “Ele está no reino celestial, melhor do que aqui!”
“Era uma pessoa tão boa e cheia de sonhos e desejos”,
Trarão flores quando nossos olhos já não podem frutificar mais nada,
Derramarão lágrimas quando os abraços e as palavras jazem inertes,
E alguns dirão: “Tão jovem, mas Deus sabe o que faz”.
Tantos clichês inúteis que não respondem e nem explicam nada.
Outro dia despertando e minhas emoções confusas ainda dormindo
Na lucidez demasiada de meu pensar sempre acordado e depressivo.
Pra onde se esconder depois que o show acaba? Pra onde ir? Aonde ir?
O suicida não quer morrer, deseja somente assassinar as próprias dores;
O suicídio não é saída dos covardes, mas são as janelas dos obstinados;
As pessoas se matam todos os dias aos poucos com as próprias ações,
É tão fácil julgar quem se mata com base em seus credos e opiniões.
Eu penso, eu canto, drogo-me, eu rezo, eu me sacrifico no altar da vida,
Mas os sacrifícios dos deuses só servem para consolar e nos enganar,
O mundo é um hospício e os destinos humanos são transitórios e vãos.
Será que existe vida após a morte? Será que enfim me encontrarei?
Será que algum deus extirpará as lágrimas e aflições de nossas faces?
Será que haverá alguma paz e recompensa para os insanos de espírito?
Será que as religiões são apenas fábulas para justificar o injustificável?
Sozinho em casa, busco esperança e fé mas só há uma corda e um fim,
Só há prantos e mentiras nos seixos caiados em nossos dúbios rios,
Todos continuarão a viver depois de nossos êxodos e decomposições,
Pois só há cinzas, ventos e repúdios depois que as belas folhas caem no chão funesto e apócrifo de nossas vidas normais, religiosas e dementes.
Descansem em paz, meus amigos!
Descansem...
OBS: Poema dedicado aos cantores e compositores Chris Cornell (20/07/1964 a 18/05/2017) e Chester Bennington (20/03/1976 a 20/07/2017).