Tributo a Jim Morrison, meu herói poético

Tributo à Jim Morisson, meu héroi poético

ANTIMATÉRIA XAMÂNICA

Eu não nasci para ser feliz,

Amaldiçoada pelos braços leprosos do Destino ao nascer,

Meu filhinho de oito anos é tudo o que tenho,

É em cada pedaço dessa casa fria

Há o cheiro de vida de seu sorriso.

Palavra decassílaba queimando os campos emagrecidos do teu futuro,

E o mistério impenetrável de entender continua fisgando peixes mortos na beira do cais.

Olho estranhos querem penetrar no céu infinito do teu coração.

O relógio vira mais uma folha do livro,

E um silêncio gritante do Nada adormece todas as vozes do mundo.

Não é ruído de chuva.

É o som do chuveiro ligado

O qual purifica o corpo imóvel de uma suicida de vinte anos.

O beco escurecido pelo temor do que se pode está oculto por lá.

Aquele pai narcotiza a própria filhinha de onze anos,

E ela sonha com Jesus e com anjos enquanto seu pai

Estupra-a quando sua mãe sai para trabalhar.

Quebrando-se e refazendo-se metaforicamente,

As saídas foram completamente lacradas,

Indecisão hermafrodita de teus pés,

Contudo ainda há um fatídico resíduo gelatinoso de sêmen em teus lábios.

Um prédio em chamas,

Labaredas incógnitas dançando através das janelas.

O corpo de bombeiros acionado

A sirene da calamidade inevitável

Joguem os corpos das crianças carbonizadas do terraço

O braço que se estende suplicando por mais um dia de vida

Pratos sujos com restos de sopa

Consumidores no cio à espreita de supermercados delirantes;

Ressuscitai, ó messias do nada,

Ressuscitai estas pedras ébrias!

A mentira é a prostitua-mãe de todas as verdades,

Prostituta que se aloja nos bosques proibíveis de teus lábios.

Estraçalhe sua alma no penhasco de sua tristeza

O dicionário de nossos crimes impunes

A consciência petrificada

Pela amargura insólita da realidade;

Coração galvanizado

A navalha abrindo um corte seco na garganta

E o carnaval das toupeiras bípedes querendo provar a Dionísio

O quão vivas elas ainda estão.

Faz algum sentido haver colheres e pratos em cima de mesas?

O cheiro matinal das mentiras contadas ainda no café da manhã…

O lençol febril ainda transpira a lembrança de dois corpos nus que se tocaram,

Sem amaram sem receios.

Teu olhar cansado em busca de coerências,

Teus dedos tentando reconhecer um amor que apenas existe em tua imaginação.

Espere, ainda há mais coisas…

Quadros boquiabertos com tanto descaso,

A palavra é o meio utilizado pela consciência para gerar o desejo,

O impulso descontrolado do desejo

A fim de exaltar seu portador medíocre.

Prédios inconformados com seus corpos artificiais,

Mas o que não é artificial nesse mundo dissimulado?

Uma velha míope se balançando em uma cadeira

As luzes do holofote de tua fama agora apagadas,

Uma vela que chora solitariamente na capela,

Televisões hipnotizam a alma curiosa das crianças

Enquanto os pais fazem sexo no quarto.

Becos homicidas e saturados de lendas,

Igrejas epilépticas lutando por um fantasma verbalizado.

Meu corpo acorda!!!

O lençol e a cama molhados pela existência ainda mal digerida;

Uma casa doente hospedando assassinos

Que tomam café e rezam a ave-maria antes de sair de casa.

Meus olhos gritam de alegria

Diante da pirâmide em ruínas da decadência humana.

Palavras são meretrizes astutas em busca de sangue novo para se deitar, e possuir.

A mentira veleja no dorso do vento,

A tendência masoquista da humanidade em buscar ser guiada pelo amor,

O homem só se sente seguro quando algo o escraviza.

Mundo, és meu pai;

Vida, és minha mãe.

E como é destino de filhos,

Preciso vos odiar com ódio desenfreado

Para que eu vos ame cada vez mais em segredo.

Eu tive um sonho,

E eu vi este sonho fugir de medo de mim.

Mais ainda permanece firme o nosso pacto

De descermos ao inferno ardente juntos,

Sem hesitação,

De mãos dadas meu amor,

Abraçando e beijando o Diabo,

E sorrindo para todos os abominados por Deus.

O Amor é a genitália da Insanidade.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 12/08/2007
Código do texto: T603933
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