Toda liberdade tolhida

Sentada, presa a amarras, tenta se soltar, corpo tombado, não consegue se soltar, chamo a enfermeira, diz que não é para mexer, ordens médicas, será que se eu a prender igual, ela entenderá que apesar de ser ordens médicas é preciso conforto? Inconformada, tento eu mesma afrouxar as amarras, pois ela não gosta de ficar assim. Canto para ela, que sorri, dizem que já não entende mais nada, mas esse olhar de carinhoso reconhecimento, não é o de alguém sem nenhuma memória, acredito que o que recebemos de bem fica gravado em nossa memória, e assim é com essa pessoinha tão frágil,pego sua mãozinha tão enrugadinha, magra, ela leva minha mão até os lábios e a beija, retribuo o carinho, ela sorri, e me diz quase que sussurrando tão faquinha é sua voz- eu te amo- isso me deixa muito feliz, pois sei que ainda temos um canal de comunicação, o coração.
Tenho que dar atenção aos outros, que também esperam por uma brincadeira, uma "palhaçada", e lá vou eu engolindo as lágrimas, escondendo a dor que sinto ao ter que admitir, que eu estou ali por apenas umas horinhas, eles uma vida inteira, pois ao serem levados para esse lugar, que com certeza não foi escolha deles, alguns já mais de 10 anos, outros resistem menos, entregam-se a tristeza e morrem...O que me consola, é que apesar de serem poucas horas, são as melhores da vida deles, como diz um senhorzinho, bem que vocês poderiam vir sempre, o salão enche-se de alegria e a gente até esquece onde está...Se eu pudesse traria todos comigo, mas como não posso trago a todos com muito carinho no cantinho mais confortável do meu coração!

Tia Mala_vilhosa, vai toda sorridente pois sabe que seu sorriso cura unha encravada e dor de dente!!!!