Travado
Já faz um tempo que eu ando.
Ando, mas não caminho.
Todo homem tem o mesmo destino
Mas estão turvos meus passos.
Ando pra casa.
Me deram isso, não consegui nada.
Não tenho frio, não tenho fome
Mas não me basta.
Em dias ruins sinto esse monstro que me consome.
Em dias piores não é monstro.
Sou só, eu mesmo.
Minhas capacidades e prazeres
São falsos prazeres e falsas capacidades
Jogos e pessoas, jogadas.
Cálculos e códigos, descaminhados.
Papai é engenheiro?
Quis ser mais do mesmo.
Minha mãe é psicóloga,
Eu sou psico-ilógico.
Mas já não importa, nada importa.
As pessoas da calçada estão em outro mundo.
Chega um ponto onde você não olha mais
pra cor do sinaleiro com a mesma vontade.
E não paga um ônibus
porque não há nada nada melhor pra sua noite
que adicionar lágrimas e suor a chuva do chuveiro.
Minha angústia é tosca.
Mas em dias piores é o que sobra.
Sou só, eu mesmo, e versos, e lembranças.
Traços e casos tão magros.
Trejeitos de alegria instantânea
em trapos travessos de infância.