Metáfora
 
 
Às vezes,
há ainda uma  corrente
Muito fina e cristalina

Que quer correr para o mar,
Ainda há um par de pernas
Que caminham devagar,
Mas que querem caminhar.
 
Há uma história em seu final,
Porém, algo a se contar
E também a se escrever;
Uma alma que pressente
Que as palavras são cansadas,
Que os olhos estão baços
Mas ainda querem ver.
 
Às vezes,
A memória se confunde,
Misturando em seu cadinho
O presente e o passado,
Mas ainda há um futuro,
Um epílogo iminente
Cujo fim está marcado.
 
Às vezes,
Ainda arde o desejo
De abrir portas e janelas,
E pôr aquele vestido
De saias muito rodadas

E pedir que um vento lúdico
Venha brincar, divertido,

Mas vem a voz do repúdio,
Aquela, que sempre diz “não”
E encerra o interlúdio
Com um só gesto de mão.
 
Às vezes,
Ainda há um caminho
Com vontade de pegadas,
Há um pedaço de sonho
Sob as pálpebras fechadas,
Porém, à realidade,
Desfolha-se a rosa murcha
Debaixo dos olhos críticos
Que sentem-se ameaçados.
 
E um dia, sob a terra,
Ficará aquela história
De alguém que já se foi,
E nem fez muita questão
De incomodar a memória
De deixar uma lembrança
Num canto de coração.



Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 16/06/2017
Reeditado em 16/06/2017
Código do texto: T6029287
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