ALMA TRÊMULA
Uma alma trêmula
Foi o que o mundo me deu
Foi o que a vida me trouxe
É, hoje, o presente inquieto
Que acalma meu pesar
E não é preciso ser noite
Para que veja a escuridão
Não é preciso cair
Para que sinta dor
Não é preciso se cortar
Para que verta lágrimas
Não é preciso que lhe gritem
Para que sinta a humilhação
E toda a sorte de maldades
Que o ser humano é capaz de fazer
Não, não é preciso mais
Pois o tremor nessa alma
Instalou-se há tempos
Quando os sonhos, mortos
Ainda viviam
Quando a inocência, violada
Ainda brilhava
Quando o sorriso, apagado
Ainda reluzia
E ninguém viu
Ninguém viu
Quando em pranto infantil
Sangrava sem parar
Quando, achando-se impura
Banhava-se repetidamente
Em suas lágrimas
E em seu desejo de pureza e paz
Não, ninguém viu
Hoje o tremor é parte dessa alma
Sua noite é nua de sonhos
E seus dias tem um sol ofuscado
Mesmo estando fechada em si
A dor não precisa de convite
Para entrar em suas horas
Pois é parte de sua rotina
É a cor sob seus olhos
É o cheiro de suas lembranças
E a voz de seu passado
Que lhe quebram os ossos do sossego
E fustigam sua mente e coração
Tornando-lhe trêmula
Já que o MAL lhe tocou
Mostrando que a vida
Ainda que vermelha
Em rodopios e bailados
Ainda que agitada
Entre amigos e chegados
Pode ser tão cinzenta e solitária
Como o andar fúnebre
Dos que se despedem de uma vida.
(Para minha querida Esmeralda V, amiga, poetisa recantista, que vive a poesia de suas horas, sem deixar que as sombras de fantasmas, escondidos entre as linhas prosaicas dessa existência, lhe proíbam de viver os sabores e os dissabores de um amor feliz.)