ALMA TRÊMULA

Uma alma trêmula

Foi o que o mundo me deu

Foi o que a vida me trouxe

É, hoje, o presente inquieto

Que acalma meu pesar

E não é preciso ser noite

Para que veja a escuridão

Não é preciso cair

Para que sinta dor

Não é preciso se cortar

Para que verta lágrimas

Não é preciso que lhe gritem

Para que sinta a humilhação

E toda a sorte de maldades

Que o ser humano é capaz de fazer

Não, não é preciso mais

Pois o tremor nessa alma

Instalou-se há tempos

Quando os sonhos, mortos

Ainda viviam

Quando a inocência, violada

Ainda brilhava

Quando o sorriso, apagado

Ainda reluzia

E ninguém viu

Ninguém viu

Quando em pranto infantil

Sangrava sem parar

Quando, achando-se impura

Banhava-se repetidamente

Em suas lágrimas

E em seu desejo de pureza e paz

Não, ninguém viu

Hoje o tremor é parte dessa alma

Sua noite é nua de sonhos

E seus dias tem um sol ofuscado

Mesmo estando fechada em si

A dor não precisa de convite

Para entrar em suas horas

Pois é parte de sua rotina

É a cor sob seus olhos

É o cheiro de suas lembranças

E a voz de seu passado

Que lhe quebram os ossos do sossego

E fustigam sua mente e coração

Tornando-lhe trêmula

Já que o MAL lhe tocou

Mostrando que a vida

Ainda que vermelha

Em rodopios e bailados

Ainda que agitada

Entre amigos e chegados

Pode ser tão cinzenta e solitária

Como o andar fúnebre

Dos que se despedem de uma vida.

(Para minha querida Esmeralda V, amiga, poetisa recantista, que vive a poesia de suas horas, sem deixar que as sombras de fantasmas, escondidos entre as linhas prosaicas dessa existência, lhe proíbam de viver os sabores e os dissabores de um amor feliz.)

Fabio Ferreira S
Enviado por Fabio Ferreira S em 02/06/2017
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