Tormentos (Memórias de Guerra)

Tormentos

(Memórias de Guerra)

Na noite errática da montanha

a tempestade dos sonhos ruge,

troam os gritos dos mutilados

espezinhados pela fúria da dor

e a raiva explode dilacerante.

Os andrajos e farrapos vomitam

sangue das feridas trespassadas

por raios de loucura apocalíptica

vertendo humores na terra negra,

peganhosa de sangue, lágrimas e lama.

E os fantasmas dançam aos ritmos

da metralha indiferente zunindo

nos espaços e nos tempos da morte

que se esgueira trôpega e ébria

pelos vales malditos da discórdia.

...

Meu corpo gelado na inércia do medo

sobressalta-se em espasmos de dor;

meus olhos rolam o terror feroz,

a minha boca seca-se e lamuria

sons incoerentes de puro drama

e balbucia a cobardia da fuga.

Frio, morte, trovões, relâmpagos...

O mar é um poço de monstruosidades,

sem fundo, tão negro como a noite,

que fustiga as fragas que choram

lágrimas de sal em minha face dorida.

Morro, gemendo de pânico patético,

na troça de bobos e de prostitutas,

noivos gerados pelas guerras vãs.

Minhas mãos desistem e pousam a pena

e as penas se me negam prostradas.

...

Voo no breu da noite, imortal de alma,

sem matéria que defina um corpo sequer.

e uma outra alma voa célere clamando

meu nome e me toca quente, me despertando

no beijo e no sussurro da manhã que vem:

"Acorda, meu amado! Em meus braços, Amor!"

...

Bom dia, Morte, minha noiva prometida!

E a tormenta se esvai ferida e vingativa...

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 10/04/2017
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