A Mente e o Coração
Desce no horizonte a luz que aquece meu mundo
E começo a procurar um novo amor entre vários amores,
Vagando à noite como cão sem dono, vagabundo
Chorando os espinhos sem jamais ter cheirado as flores.
Disse o homem:
“Tolo, tolo”
E de mim ria:
“Quem não tem amor, tem esperança.
Quem ama, morre sem temor
E quem tem esperança morre sem amor.
À quem ama, a bem aventurança,
Mas ao que só tem esperança, sofrimento,
Pois essa moça faz o último passo nessa dança.”
Surdo, cego e mudo o abandono é indiferente;
Não sabe o quanto corta, o quanto dói.
A concordância inconsciente, uma resposta complacente
Demonstra sem se esforçar o abismo que se abre, a barreira que se constrói.
Vou-me embora deste lugar, frio e estéril.
Vou parar de sofrer por alguém que não me quer.
Vou largar esse sonho pueril.
Vou rasgar essa casca minha, seguir pra um lugar qualquer.
Rindo o homem falou:
“Vai lá, ó, nobre;
Tu com teu coração esfacelado,
Tu com tua auto-estima pobre,
Apieda-te da faca que dilacerou-te o íntimo
Acalma a culpa de quem te plantou a mácula.
Prova que tu és realmente ínfimo ,
Que tua dor nada mais é que ridícula!”
Cala-te, ó, mente inquieta, praga minha ;
Deixa-me sem o ódio que tu engendras.
Tua sombra ao meu lado caminha,
E a mim, todo momento melindras.
Eu que não tenho voz e nem posso chorar;
Eu que nem posso rasgar meu peito e morrer,
Não aceito tuas maldades escutar,
Não te permito aos teus planos tescer.
Deixa-me curar meu coração alanceado
E poder minha cabeça erguer.
Deixa-me encontrar a firmeza nos meus pés cerceados
E fazer-me inteiro para em fim reaparecer.
Não há no ódio resposta, não há no amor razão.
Ao sofrimento já estou acostumado, por isso não morrerei, não.
Ei de esquecer tudo, me recriarei em pura elucubração,
Embora rasgado e remendado, é firme meu bravo coração.