Não Quero! II
Me deixa!
Não quero ser amada, mordiscada hoje
Me deixa
Não quero ser lambida, medida, dosada
Se sou boa ou ruim
Bonita ou feia
Inteligente, das boas ou das bobas
Não quero o olhar que julga
A boca calada que me come
Pelos ouvidos e olhos
Enchi-me
Da fama, do unguento
Da mirra...do aroma e do alimento do luxo
Da cara lavada, da hipócrita
Da entediada, da esfumaçada
Da encardida do cinismo
Da minha enojada
Não quero! que fiquem onde estão
Estou cheia de mim
Do outro, das ostras nas cascas
Em volta de mim
A lesma que gruda na soleira da porta
Para me ver
Não quero!
Guardei o regador
Que umedece meu ego
Quero é esturricá-lo
Estou pelas tampas!
Não quero!
Praticar o auto engano
Para receber o aplauso
Por ser mediana
Do bom e do belo
Do céu e dos deuses
Não quero
Sentir dó, compaixão, repudio a dor
Se o que irradia é o fedor
Da marmita vazia
O vazio da dispensa
Trabalhador sem trabalho
Pobreza
E a Minha de sentido
Que fabrica nos dias
Produz o auto-engano
Partilha auto-engano
Para nada
Sertão de dores
Estado de repouso
Hoje estou!