Mundo Cão
No mundo não há sutilezas
Tampouco espaço para as delicadezas cotidianas
O cansaço eminente pulsa os maus odores das nossas descrenças
Secreção purulenta esculpindo nossa carapuça diária
Somos assim, insuportáveis
Sorrindo as covas de nossa morte diária e lenta
Vestimo-nos com os adornos da vaidade tola
Sendo outdoor das propagandas bestiais
Permito-me encarar o sofrimento nos olhos de quem pega trem
De quem atravessa os carros em pânico
De quem é escravo do relógio
Nada é sutil nesse esquizofrênico mundo
As delicadezas são invisíveis
E os invisíveis são corpos dormindo no cimento frio
O pessimismo se esconde nas entranhas
Na angústia que evoca as preces
Na desesperança que torna o cinza em cinzas
Queimo
Queima mundo cão
Queima a ansia de ascensão que cultivam os fascistas
Queima a sede dos intolerantes
Queima a insuficiência desse dia
Sem esperança
Sem cor
Sem dor
Sem nada
Charlene Angelim