Mundo Cão

No mundo não há sutilezas

Tampouco espaço para as delicadezas cotidianas

O cansaço eminente pulsa os maus odores das nossas descrenças

Secreção purulenta esculpindo nossa carapuça diária

Somos assim, insuportáveis

Sorrindo as covas de nossa morte diária e lenta

Vestimo-nos com os adornos da vaidade tola

Sendo outdoor das propagandas bestiais

Permito-me encarar o sofrimento nos olhos de quem pega trem

De quem atravessa os carros em pânico

De quem é escravo do relógio

Nada é sutil nesse esquizofrênico mundo

As delicadezas são invisíveis

E os invisíveis são corpos dormindo no cimento frio

O pessimismo se esconde nas entranhas

Na angústia que evoca as preces

Na desesperança que torna o cinza em cinzas

Queimo

Queima mundo cão

Queima a ansia de ascensão que cultivam os fascistas

Queima a sede dos intolerantes

Queima a insuficiência desse dia

Sem esperança

Sem cor

Sem dor

Sem nada

Charlene Angelim

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 14/02/2017
Código do texto: T5912848
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