TALVEZ
Não sei o que digo
Não sei o que sinto
Não é ódio nem rancor
Nem medo nem dor...
Talvez um torpor
Um momento antes da explosão
Ou implosão...
Por estar no mundo
E não ser arrebatada
Pelos seus valores
E não ser consumida
Pelas dores
Que o fazem fervilhar
De modo a esquecer quem se é
E aonde se está...
Talvez deixe de ser
Mais uma energia tangível
E de lá longe
Onde mora a lua
Onde brilha vênus
Poderei enxergar
Com clareza microscópica
As incoerências e fragilidades,
Incertezas e ilusões
Que comandam o Homem
E as suas inversões
Entre a forma e o conteúdo...
Talvez lá eu ria
Às talagadas...
Por ter chorado na noite fria
E ter desejado mais
Do que os mortais podem dar...
Talvez...
Eu veja a minha própria pequenez
E identifique em meio ao caos
Aquilo que é divino no mortal
E sorria como quem sabe
Porque caminhos trafegam
Os nossos pés...
E enfim possa admirar
Mãos enrugadas, sem anéis...
Estrelas nos olhos encovados...
E adentrar para além
Das janelas da alma
Conduzida por um fio
À meada da verdade
Talvez...