Curva do vento
Numa tarde fria de janeiro,
labaredas invadiram o sonho de um amigo
e queimaram até a última parte
de tudo que ele construiu tão cauteloso,
roubando-lhe a arte de sorrir.
Estático,
com o olhar por hora distante
não percebe que o tempo fugiu ágil
bem abaixo de sua barba por fazer,
feito enxurrada de dezembro que arrasta tudo que se posta pelo caminho.
Enxergar a casa em cinzas dói no fundo
e ele fica sentado com o lápis na mão,
rabiscando um novo plano para encher o tempo;
No fundo, sabe que seu caminhar ainda é longo
e se apóia nos bons corações para se erguer,
na certeza de que o inverno vai passar
logo ali, na curva do vento.