Confundi as tristezas - dois poemas em um
Como último confidente, aqui, e único em linhas invisíveis
Traços imaginários sustentando tanta coisa pesada e triste.
Quem há de ouvir-me senão recanto pelo qual me remiste?
Em que hei de confiar senão aqui, páginas rígidas e insensíveis?
Em quem hei de confiar senão nesse impulso que aflora
Sempre que sinto e em letras escrevo a palavra sentida?
Onde afinal confiarei meu tesouro simples e a eterna partida?
O que irei escrever senão a angustia pela distância agora?
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Rapidamente eu seria trocada e substituída, eu sei.
Por uma poetisa qualquer dessas experientes e seguras.
Ou por uma lua vadia qualquer que despontasse no céu claro
Ou por uma mulher, seja ela quem for, que não eu, não nós.
E quando haverá sol? Quando previsão do tempo e certeza?
Não. Não haverá. Nem há. Haverá meu corpo caindo no abismo.
Haverá mãos e flores e prantos. E arrependimentos sempre vãos.
E uma história bonita e trágica escrita em outra vida distante.
E esse sonho que aqui cresce seria interrompido por mim.
Bruscamente porque todo o fim deve ser brusco por si só.
Quem ela? Uma qualquer, viva e feliz. Eu? Espectro e pó.
Mas e se não fosse assim, seria eu alguma poetisa melhor?
Não. Em vida seria aquela que amou e foi amada, nem tanto.
Aquela que escreveu e que escreve e que escreverá eternamente.
Aquela pela qual não foi possível viver um sonho. Não.
Aquele por quem não se lança ao esmo em busca de paz.
Porque eu seria, como sou, furacão e neve e sol escaldante.
E tempestade sem arco-íris. Menina louca e mulher indecente.
A não perdoada, a desconfiada e inconfidente com o tempo errante.
Menina linda e fragilizada. Menina minha, nunca sua, não namorada.
19/01/2017