Alma gélida
Não há mais nenhum barulho,
não há mais nenhum sentimento,
não há mais sinal de vida,
ladainhas para uma morte anunciada,
uma existência apagada,
um velório sem despedidas,
um roteiro esquecido,
um cemitério de fantasmas,
o calendário está em branco,
só a dor se mantêm constante,
só o frio conserva a alma gélida,
e o rio ainda corre no mesmo sentido,
não há mais cartas para escrever,
as palavras secaram no papel,
a poesia se desfez em tristeza,
não há mais músicas no repertório,
não há mais cordas no violão,
não há mais estrelas no céu,
as cores se perderam no concreto,
as flores desfaleceram no cinza chumbo,
só restou uma casa abandonada ao vento,
as trilhas encobertas pela poeira do tempo...