O MALMEQUER

Florbela d'Alma da Conceição Espanca

Flor de nervuras e de canduras

Poesia no nome e na vida

Lirismo triste despetalando afetos

Himeneu despedaçando amores

Desejos floridos a peles

Invernando ardentes carinhos

Irmanados a melancolias de fundas raízes

Corolário de anseios e dúvidas

Crisântemo de cruciante sentimento

Aberto em solário de roxidões imensas

Uma beleza de alegrias esmaecidas

Com palores outonais de páginas esquecidas

Em longes livros desvividos de romances

Música de palavras embaladas no lamento

De voz perdida em alamedas áridas de consolo

Solidões noturnas e lutuosas

Em pálpebras descidas a pétalas de sonhos

Sepultadas ao céu aberto da desesperança

Julieta alentejana sem Romeu, longe de Verona

Flor da vida e flor da morte

Florbela d’Alma

Renascida de si mesma nas dores

Sementeiras de elegíacos jardins veronais

Conceição de crisântemo

Que desabrocha tristeza sobre tristeza

Em refluxos de violeta cor

Espanca do mal de amor o desejo donde vem

O pólen doirado de seu verbo

Para verter o oiro da chaga de seu verso.