Ai! estou tão triste!

Eu quero cair de joelhos

E chorar como uma criança faminta,

Chorar todas as lágrimas - que como humano - foram prometidas a mim!

Mas eu não choro, meu bem,

A verdade é essa:

Nunca derramei lágrimas pelos olhos.

No entanto as sinto presas na garganta, é verdade,

Porém, as que caem não são essas.

São mais secas e amargas e invisíveis :

Elas machucam e pesam mais que o mundo!

Essas minhas lágrimas de tristeza

São insuportavelmente dolorosas!

Quando elas vêm, eu desejo a Morte em sua mais pura forma:

Negra e solitária.

Quero que ela - como uma enfermeira -

Aplique em minhas veias desnutridas

O remédio que cura as paixões e todas as dores do mundo!

Estou triste! Tão mais que triste,

Já não posso suportar!!

Onde posso obter ajuda, meu bem?

Contigo já não mais,

Porque já faz parte de um outro ser.

Um ser tão maior que eu e tu,

Tão universal como os princípios

Das ciências naturais.

Poderei eu refugiar-me em teus braços?

Afagar-me em teus beijos?

Não! Pois a minha tristeza é como uma doença que contagia

E a deixaria, de mesmo modo, triste.

E eu não a quero assim:

Vejo-a feliz, é assim que a quero.

A felicidade é tudo, meu amor;

Tudo o que se tem é por conta dela!

Já a solidão e suas irmãs

Só trazem desespero ao coração:

Não há nada mais perigoso

Do que um homem só.

Esse corre os olhos no mundo

Buscando uma paixão, uma amizade

(O desespero que sinto!)

Para morrer na eternidade dum olhar.

Será que o mesmo seja realmente perigoso?

A quem?! A si mesmo, querida.

Somos todos loucos de amor

E com a loucura vem o doce prazer

De se torturar num amor homérico, impossível!

Como sou triste,

A esse ponto do poema (que logo se finda)

Já encontro-me menos.

(Contudo, ainda o sou - e muito!)

Vejo o papel;

Vejo a camisa;

Vejo as lentes dos óculos,

E não vejo lágrimas...

Mas olha o coração!

O coração, meu bem!!

Olha o lindo poema que fiz da minha dor e veja

O meu doloroso pesar:

Se não choro água salgada,

Choro tinta apaixonada!

301216