ICONOCLASTA

Partiste!

Não como chegaste

Posto que sentiste

Como me deixaste

Até que tu viste

Como me laçaste

Quanto me feriste

Quando me evitaste

Com teus olhos riste

Com a alma choraste

Poste o dedo em riste

E me apontaste

Eu pensei: persiste

E me perdoaste

Como quem não existe

Pelos céus voaste

Nas nuvens sumiste

Esqueceste!

Para meu desgosto

Quanto entristeceste

Sem mostrar teu rosto

Não sobreviveste

Ao esquema posto

Nem arrefeceste

Ao mais leve encosto

E enfraqueceste

Muito a contragosto

Quando tu perdeste

Bem no mês de agosto

O bem que colheste

No jardim composto

Que tu concebeste

Para ser o oposto

Do mal que viveste

Caminhaste!

Sem pensar no susto

Que enfim passaste

Ao destruir o busto

Com arma de haste

E o pequeno custo

Que tu calculaste

Crendo ser vetusto

O sol que pintaste

Nem viste o arbusto

No qual te encostaste

E onde entalhaste

Teu nome tão justo

Junto ao de um traste

Eu avaliei injusto

Tu bem que gostaste

Iconoclasta!

Mais que artesã, foste artista

Mas as obras que criaste

Destruíste no entreposto

Do ostracismo manifesto

De um talento inconteste

Que jamais serviu de lastro

P'ra uma falsa modéstia

P´ro orgulho ou o embuste

Ao contrário, foste mestra

De façanhas altruístas

Esboçaste em tons pastéis

Com luz vinda da crista

De beleza rara e triste

As abóbadas celestes

E a separação indigesta

Fez da morte sua madrasta