VINTE E OITO LAMENTOS
Vinte e oito, um fevereiro inteiro com a exceção de um bissexto,
Entretanto, para uma vida não se completa, pois anda incompleta,
É que na infância não há o que ponderar, inocência...
Mas quanto mais perto do vinte e oito, os juízos mudam,
E os juízes não perdoam em relembrar,
Das vezes em que equivocadamente tentou unir, porem mais longe ficou,
Quantas vezes será necessário errar para acertar?
Quantas cicatrizes são necessárias para um dia abraçar sem medo?
Malditas bagagens que grudam na pele feito tatuagem,
Que gritam a cada reflexo em seu espelho,
Fracassos de barcos naufragados, ainda entre as ondas da praia onde não conseguiu sair,
Medo de que a solução para a solidão seja apenas se entregar a loucura,
Das noites que invadem as tendas frágeis como um ladrão na escuridão,
E os gritos vão se sucateando com o tempo, pisoteados, tornando-se mudos,
Não existe força de um atleta para muitos passos se a hemorragia tomou conta,
Febre arrepia, faz suar, resultados das cóleras lembranças,
Coleira amarrando o presente, assistindo o futuro tornar-se um vapor,
Direito de agonizar sem ser molestado, desejando uma intervenção,
A respiração mecânica em sua ânsia de transformar-se em doces suspiros,
Petição não respondida, julgada extinta sem conhecer um mérito,
Um espelho demonstrando a alma de vinte oito lamentos,
Em seus sonhos molhados, mas que mesmo assim morrem de sede.