Fim do mundo

Para Bob Dylan e Carlos Drummond de Andrade

O mundo acabando

Sua mãe esqueceu as canções

O jardineiro há muito tempo não vem

Os poetas sangram

Os profetas choram

Águas mortas

Sonhos vendidos

Em balcões de negócios

As novidades na moda

Os tiros na favela

O Haiti e a criança sem escola

Os poetas sangram

Os profetas choram

Tantas informações

Tantos números

Mas a paz é uma esperança

Que já perdeu a vida

Os poetas sangram

Os profetas choram

A criança em você

Onde está?

Teu sonho tão iluminado

Quem apagou suas luzes?

Quem patrocina a morte do sol?

Os poetas sangram

Os profetas choram

Dirão para você consumir

Indicarão igrejas

Tantos conselhos

Em livros e em redes sociais

Mas ninguém cuidará de suas feridas

Os poetas sangram

Os profetas choram

É tão doloroso escutar

Os gritos de fome

Dos famélicos do mundo

A beleza de suas intenções

Não mascara sua impotência

Os poetas sangram

Os profetas choram

A chuva se aproxima

Qual hemorragia dolorosa

Os poetas sangram

Os profetas choram

Para onde vai você

Se seus passos são em vão

Se Manhattan é indestrutível?

Se você se chamasse José

Seria uma referência

Não uma solução

Os poetas sangram

Os profetas choram

Para os pobres

E para os sensíveis sempre

Estará apontado o canhão

Os poetas sangram

Os profetas choram

Marcha a indesejada

Em cavalo ligeiro

Ceifa vidas incompletas

Que não puderam ser

Os poetas sangram

Os profetas choram

Até quando soprará

No vento uma resposta

Que os poderosos não ouvirão?

Enquanto o inverno for lucrativo

Não será viável

O verão

Os poetas sangram

Os profetas choram.

Seu pai perde órgãos

Em fábricas e em bares

Sua mãe é rio assassinado

Você ouve suas velhas canções

Mas elas não te acalentam mais

Os poetas sangram

Os profetas choram

E tudo é uma ferida

Sem medicina

Para sua dor

Não há vacina

Os poetas sangram

Os profetas choram.