Alma
Alma
Há uma luz intensa
Um brilho dentro da noite
Dentro de mim há uma bomba
E a lua soberanamente se despe
Nos versos da minha canção
Ainda há luz na alma
Mas
Há também um pouco de morte sádica
Quem desvenderá o poeta?
Não quero que me ouçam a voz
Tampouco desejo que me entendam o sentir
Eu sou a voz e o ouvido
E na alma
Alva e simples
Meio saúde e meio doença
Sou poeta em canção e versos
Faço poesia pra mim
Quero apenas um canto dos lírios
Quero cantar num canto qualquer
E não ter que voltar
Porque voltar
É o mesmo que nunca ter ido a lugar nenhum
Serei livre que for sincero
Minha poesia infeliz
Nem minha linguagem eufórica
Não necessitam de sofismas tristes
Nem de eufemismos felizes
Porque a realidade é sempre dor
Ainda que seja bela
E que dela faça minha arte
Quero ser livre
E ser livre
E ser
Livre sempre
Mas não ser livre
Em todo o tempo que existir o agora
Me escondi e depois apareço
Estou entre meu silêncio e minha palavra
A palavra é um espaço
Entre a dor e a divindade
É só um instante
Entre o ser e o evitar
Ser um instante é ser muito
Vou compor versos
Sem precisar que me entendam a fala
Não quero esquecer
Que o som dos aplausos
Dura a vida de um momento breve
O que é um momento?
Um "ai" que já se foi?
Meus versos serão eternos
Ao menos serão eternos
No sabor da ilusão do poeta imortal
A poesia que me sobrevive eterna
São duas metades de mim
Uma é a metade que mais gosto de viver
E a outra
É aquela metade que desejo esquecer.