NA VELOCIDADE DA DOR

Ela não conhecia ninguém,
Ali, perdida, muito além...
Da sua singela terrinha.
Ela, ali, absurdamente sozinha,
Absurdamente não, ela tinha,
Tinha no olhar, a presença da utopia,
Imaginava que tudo se resolveria,
Que em breve ela estaria,
Inserida no mercado,
Teria o mínimo para a condição humana,
Na metrópole paulistana.
...Ela, ali, frágil estado,
Um dia, outro dia, uma semana...
Na velocidade da aflição,
Compondo uma dissonante canção.
Ali, agora, sem sonhos, sem lida,
Na cinzelada avenida,
Senhora da aflição,
Desejando voltar a ser menina,
Aquela, do norte de Minas,
Felicidade nas retinas,
Ainda que a pobreza reinasse.
Ela, ali, no cortante impasse,
Face a face com a prostituição,
O carro, o cliente, o convite,
Ela tenta, mas, não resiste,
Se inicia na arriscada profissão,
...E quem vai dizer que não?