CEGOS
Cego pelo brilho
E pela luz insana
Deixei de ver-te ó filho
À luz do ódio que emana
Das vísceras ensanguentadas
E esquartejadas por impiedosos
Em bárbaras execuções sumárias
Que brutalidade a sós respiramos
Nos nós apertados desses párias
Aguardo avidamente pela noite
Onde possa consagrar-me cego
Cego do dia que me mata cedo
E que me dá olhos na escuridão
De noite vejo-te no auge do breu
Como um ser deposto e glorioso
Um brando cego e só como eu
Abrigado na luz de uma sombra
Que nos protege das claridades
E dos gritos agudos sem paz
Cegos pelo olhar sem piedade
Fechamos os olhos ao mundo
Ofertamos a vida às quimeras
E ocultamos o que na terra jaz