FILHO QUE PARTE
Vazio tão cheio de tristezas...
Mistura dessa saudade de ti e de mim
Amor debruçado na janela sem ver as estrelas
Diálogo mudo com a lua, luz obscura
Horizonte sem cor, pintando o fim
Dor que de doer não se cansa, sem cura
Vazio de solidão transbordante
Sol escondendo o calor
Como se sentisse, também a dor
Eternidade contida num instante
No relógio o tempo de viver
Marcando a loucura dos sentidos
Pensamento sem razão, insensato
Sonhos sonhados, quase vividos
Na fantasia de um bem querer
Vazio de alegria, cada dia mais vazio
E essa falta de nexo, em tudo que escrevi
Faz-me ver que de mim mesma estou farta
Cheia da insensatez das vontades
Culpa da enorme saudade
Que minha razão descarta
E me vejo, assim, derramada no chão
Abraçada à solidão
Jogando fora estes versos
Que maltratam os poetas e a poesia
Como se tivessem culpa da tristeza
Da falta de beleza
E da negrura que manchou a alegria
Quando abraçaste outra terra
Em outros oceanos...