À deriva...

Não me venha falar de sonho,
Quando a realidade, bem cedo, bate à porta
E é incapaz de pagar o gás,
O aluguel, o boleto vencido
E estabelecer a energia cortada...
Não me venha falar de fantasia,
Quando na geladeira vazia
Há um largo espaço,
Ocupado apenas pela garrafa de água
E por um delicioso sabor
De desprezo e nada...
Não me venha falar de poesia,
Quando em meu coração,
Outrora, tão repleto de amor
E de belas palavras,
Agora amarga pela ausência delas
E não sabe como tapar
Esse buraco enorme e oco, 
Que em mim ficou...
Não me venha falar de sentimentos,
Quando a esperança,
Que por tantos vezes,
Andou comigo de mãos dadas,
De mim, tornou-se inimiga 
E há muito me largou...
Mas, pelo menos,
Não foi assim tão ingrata,
Pois não me deixou sozinha...
Em seu lugar, deixou essa agonia,
Que tornou-se minha fiel companheira
E única amiga...
Ah se eu soubesse...
Ah, se eu soubesse
Que Poesia é apenas sonho
E  sonho não paga escola de filho
E nem compra arroz e feijão...
Que sonhar não faz ninguém amar
E não passa de uma bela ilusão...
Ah se eu soubesse,
Que a ilusão me deixaria assim,
Tão perdida, apática e totalmente à deriva
E no fim do mar de minha vida,
Só haveria amargura, tristeza e solidão...
Ah, se eu soubesse...

 
Aliesh Santos
Enviado por Aliesh Santos em 02/08/2016
Reeditado em 02/08/2016
Código do texto: T5716685
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