Lapso

Há um espaço de tempo pequeno

Entre dois pequenos segundos

Incabível ao pensamento terreno

É o lapso de momentos profundos

Entre o amor e o desprezo

O primeiro beijo e o beijo da morte

Um segundo intacto e ileso

Um relacionamento com falta de sorte

Entre o primeiro flerte e a despedida

O prazer convertido em dor

Um segundo do qual não há saída

Uma vida à procura do amor

Entre uma declaração e um estado

O felizes para sempre e o para sempre machucado

O que antes era um beijo acanhado

O que agora é o beijo do machado

Entre o abuso e a estabilidade

O que ela sabia e passou a ignorar

A loucura em reciprocidade

O Amor que nunca foi amar

Entre um suspiro e um pedido de socorro

Entre um grito de morte e outro de prazer

A lâmina que rasga a jaqueta sem forro

O segundo que jamais irá se desfazer

Entre o agora e o nunca mais

Eles queriam somente um momento de paz

Entre planos de crimes e os de serem pais

O que eles queriam foi deixado para traz

Vivo, ele jaz sob o chão de cimento

Morta, ela vive sempre o mesmo momento

Somente a eternidade reconhece o sofrimento

Do lapso atemporal do não esquecimento