Preto
Como uma ultima ou primeira gota de chuva
Toca as folhas mortas, as veias húmidas
Do que sobrou da minha alma, perdida nessa rua
Eu toco o reflexo dos meus olhos no espelho
E eu não tardo em perceber em que eu me assemelho
Eu pareço muito mais palido, do que os galhos quebrados de um carvalho queimado
E quase tão vivo quanto
Acaso o vento continue soprando
Eu vou me encontrar com o pranto
Que eu jamais derramei
E porque, eu não sei
Eu sei que não importam quantos passos
E nem o tamanho do espaço
Entre o primeiro e o ultimo traço
Esse desenho que eu faço
Amarro com um laço
E meus lápis sangram nos meus braços
E foi sempre assim, e eu achei bom, estar com alguém por perto
Havia uma presença em mim, a sua cor era um tom, e eu chamei esse tom, de preto
Como as janelas e pinturas de uma casa abandonada
Mostram, e escondem seus quartos repletos de nada
Eu entendo que o nada é alguma coisa
Pois é ele que eu vejo nos olhos dos rapazes, das moças
Todos carregam dentro de si
Uma casa como esta aqui
Cheia do vazio que a preenche
Faltando o conteudo que a gente
Preenche, quando sente, que é preciso
Que é querido, e não percebe, que nem o sentimento mais bonito
É infinito, e estará perdido
Nas linhas de um poema lido
Pois aqui escrito, aqui será jazigo
De tantas e tantas fotos de um album colorido
Que aos poucos ficaram cinzas
E tantos e tantos frames de um pensamento tido
Que não se dissipa, em nenhuma brisa
Tudo que eu falo
Tudo o que eu expresso
Dentro do meu coração queimado, enterrado, num buraco
Foi sincero
Em algum momento dessa vida
Em alguma luz dessa avenida
Faróis vermelhos e amarelos
Não podem iluminar meus versos
E não se aquece com um abraço
Mas também não se corta com o aço
Nem se deixa ao acaso
Uma poesia, uma casa abandonada, dominada, pelo mato
E as paredes da minha casa sangram nos meus braços
Porque eu não sei onde é o fim, tampouco o começo então, o caminho é reto
Que leva até mim, uma sombra cujo tom, eu chamei de preto
Como o toque de quem você ama
Faz toda sua felicidade travar num nó da sua garganta
E suas lágrimas, antes tantas
Agora guardadas numa estante bamba
O peso de alguns potes é maior, e tem mais
Mesmo que todos sejam iguais
Dentro de um pote de lagrimas existem mais verdades
Do que um de sorrisos, dura realidade
Uma flor nasce de um aterro municipal
E algumas rosas morrem no seu quintal
Por que tudo é tão sem sentido
E tudo é diferentemente parecido
Eu tenho aprendido
Que não estou pronto pra aprender nada ainda
E tenho entendido
Que a dor nunca é bem vinda
Mas nunca é deixada do lado de fora da porta
E jamais vai embora, ainda que agora esteja morta
Todas rimas que eu encontrei hoje
Numa triste, mas sincera noite
O açoite
Do fio quente de uma lágrima pelo seu rosto
De ver no espelho do seu banheiro, um monstro
Capaz de dizer tantas e tantas palavras bonitas
Que ele mesmo ja as derramou pela pia
Você vai chamar minha poesia, de vazia
Mas na verdade eu acho que já sabia
Que eu ja estive tão cheio, tão cheio do que eu perdia
Cada dia
Mais uma se ia
Partia
Uma palavra, uma expressão fria
E eu vejo que ao meu lado
Existem mais e mais de mim mesmo, todos calados
Seus punhos atados
Seus olhos apagados
E as flores que eu comprei, sangram nos meus braços
Os tecidos de cetim, os estojos com batons, e o sorriso sincero
De uma menina que perdeu seu afeto
Como os sutis, tons de um olhar marrom
De um menino que aprendeu a ser neutro
Ha uma presença nos nossos reflexos, a sua cor é um tom, e eu chamei esse tom, de preto