O Inverno Deve Durar Para Sempre

Era mais um outono, outrora repleto de laranja, descansa sobre galhos mortos o presságio, em adágio cantam os rouxinóis e canários, abrigados e solitários, deixados ao frio, frio presságio de inverno.

O inverno deve durar para sempre dessa vez.

Folha fraca, cede, cai cegamente nos braços da corrente de vento, tempo age de modo lento, ainda que ininterrupto, rústicos são os pensamentos dos que se acolhem por baixo das arvores, arvores mortas, de folhas soltas.

O senhor do tempo ordena para que caiam as folhas, as folhas so caem quando estão mortas ou debilitadas, e as pessoas acham belo, o amarelo, do cemitério que cada arvore acolhe, depois que ela morre.

Numa tarde dessas, as pressas, fugia uma menina, sombria era a penumbra, púrpura, onde ela se escondera. Quem dera, pudesse acolhe-la, puseram-se as folhas, as sombras, a ouvi-la, ela ia, caindo aos poucos no amontoado, alaranjado, de folhas mortas, dizia ela:

- Os homens não sabem ver, ser o que melhor pudessem ser. Os homens querem todo o poder, resultante do sofrer daqueles, os homens do mesmo tipo, que não sabem ver.

E então as folhas sussurarram no seu ouvido:

- As pessoas fogem da chuva, as pessoas se escondem do sol, elas querem rumar sozinhas, mas quando se perdem, pedem por avistar um farol. As mesmas estão tão confusas, em fugas e lutas, elas acreditam em qualquer coisa que pareça confortador, mas é natural do homem, ceder ao suposto solicitado temor.

A garota juntou um punhado de folhas e disse:

- Mas folhas, ainda que mortas podem falar, então vale o esforço de tentar faze-las me escutarem, reparem que os homens não criaram doutrinas para unirem-se, mas sim para guerrear com os que não concordassem. Os homens criaram leis para que se cultivasse o respeito, mas regam seus atos, com fatos dos quais se fossem os prejudicados, não seriam opostos aos que não respeitassem. Os homens estão confusos, obscuros, e não mais astutos do que as bestas. São exímios construtores das prisões que os aprisionam, são presos a costumes que não mais funcionam, são cegos demais para lerem o que escreveram, devem ter tanto medo do que não conhecem, que só andam onde outros já andaram antes, e errantes que ousam pisar além do pré preparado conceito comum, sao os loucos ... Os homens são, são como vocês caras folhas, a vida diz para cairem ... caem, diz para que nasçam novas ... nascem, só o que eu quero agora, sob esta aurora, escuridão que evidencia demasiada avançada hora, era uma folha que se recusasse a morrer. Viver para ver, qual seria o parecer da natureza, beleza em ser diferente dos homens tão vazios ... e sombrios.

As folhas sopraram com força, ao redor da moça, até que adormecesse, nesse momento, seu corpo se desfez, três vezes o vento subiu as folhas até mais alto que a arvore, onde por fim todas caíram denovo, menos uma, jovem e verde, única no ramalhete seco e morto, de gravetos quase soltos. Pos-se a flamular com a brisa, sem jamais cair, sem jamais ceder, nunca iria avermelhar-se, nunca iria morrer.

E quando o inverno veio, meio interno no seio da terra, enterrou as folhas na neve, até todas estarem sepultadas no branco macio do inverno, exceto a bela moça, agora folha, eterna, na ponta de um galho, quase em sinal de escárnio com a mãe natureza, mas que manteve a pureza, e teve certeza, de que um dia a folha ia morrer.

O inverno se foi.

- Oi.

- Oi. Se cumprimentavam as folhas.

As novas folhas comentavam o quão frio foi o inverno, mas a folha eterna já estava la, e ela disse:

- Folhas ... companheiras me aliviaram da solidão, estive aqui todo o inverno aguardando o verão, onde outras se juntariam a mim para fazer sombras do sol e do luar, aquela, onde uma vez humana, eu vim me abrigar.

Ela conheceu todas as flores, todas as pétalas, e assim se passaram varias e varias primaveras, mas sempre chegava o inverno, e era inferno para a folha eterna, que a ser folha, viera, pois não podia mais viver com os humanos.

Uma vez que eram confusos mas sempre buscadores de respostas que não acreditavam, para agirem de acordo, para conviverem na errônea lei de sempre. O habito humano, para a uma vez humana, folha eterna, já não era mais suportavel.

O outono chegava, a tristeza pairava sobre a arvore, para todas folhas o fim chegava, a cairem eram orientadas, caiam ... morriam, sobre a pilha laranja, onde uma criança brincava. Ninguém disse uma palavra.

Então chegou o inverno, e assolou o mundo dos homens indo muito abaixo de zero, soprou ventos para de suas casas arrancarem os tetos, destruía tudo o que eles julgavam certo. A folha eterna ria, e dizia:

- O que é bom pra uns, é mau pra outros, foi necessário tão brutal inverno para que aprendessem um pouco. Regidos pelo conceito e os princípios que criaram, agora se arrependem de terem julgado, os que duvidaram, os que pensaram, os que de malucos chamaram. Mas para todos o frio é frio e frio se sente, estou grata por ser folha, em pleno fim da humanidade, e não ser mais gente.

O inverno se acentuava mais, tais eram os ventos e nevascas, que casas, as pessoas ja não tinham mais, se viram obrigados a agir para sobreviver, se uniram em abrigo, mas sempre em conflito, depois de 6 anos de inverno acabaram por morrer.

Morreram os pássaros, e os céus ficaram vazios ...

Morreram os peixes, e ficaram vazios os rios ...

Morreram todos na neve tão terna, exceto ela, a folha eterna, sempre verde, uma vez humana, se transformou numa folha até que o mundo mudasse, se tornou o único contraste, na imensidão branca do inverno, que pos fim a tudo que a magoasse.

Mas já era muito tarde para que a notassem.

Então o mundo se resumiu a uma folha sempre verde, e o inverno igualmente eterno ... E ela disse:

- Tudo o que poderia ser visto, foi visto, e agora estou onde ja estava ... O inverno deve durar pra sempre dessa vez, mas talvez agora, isso não signifique mais nada

Eduardo Do Prado
Enviado por Eduardo Do Prado em 03/06/2016
Código do texto: T5656334
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