Ensejos Poenteados
Quero voltar a noite letárgica
Dos antigos umbrais da fantasia
Onde a tristeza, essa serpente mágica
Enroscava seus ocasos de agonia.
À velha singela ,virginal melancolia
Estender meus braços e meus cantos
Sob uma tarde eterna ,que irradia
Longas catedrais de borbulhados prantos.
Amanhecer ao toque de clarins serenos
Trompas e asas de harpas pomposas
E novamente desenhar dias amenos
Que a alma veste e o céu põe sob rosas.
Quero o antigo arrebol de toda hora
Por ele clama meu coração esfíngico
Quer sob o rubente riso da aurora
Quer sob o mar do pensamento outonálico.
As pompas diluídas nos ais de um ocaso
São tão docemente dilaceradoras
Que eu não sentiria mais belo caso
Que engrinaldar do espaço os explendores.
Toda hora poentes, toda hora adeuses
Do instante que parte ao segundo que fica
E encravar com poemas títulos de deuses
A cada morte e cada nova aurora rica.
Destilar a pena de um passado morto,
Cantar,sob o véu do ocaso e o léu da morte,
Dos sonhos o grande punhal absorto
Do destino a sanha estranha e forte.
Perguntar-me novamente de improviso
Que estranha tristeza pôs aureola no azul,
E perder-me em cismas pueris ,cheio de riso
Nas plagas mansas de um sonhar do sul.
Tenda do passado ante os olhos distendida
Corra, veleje, rume meu estro
Por pátrias de além?...é desta vida...
É deste outrora o meu sofrer funesto.
Por amor cante a silaba apiedada
No sibilar sussurrante do ocaso
Que é toda poentes esta vida,
Que é todo fel murmurante este meu vazo.