MUNDO LAMACENTO

Lugar escuro

Onde a alma das crianças

Já vem sujas da fonte.

E de cima do muro

Eu miro a esperança

Que foge pela ponte.

Ela atravessa,

Pra longe da nossa lama,

Pra longe do nosso odor.

Ela tem pressa!

Procura quem ama

Longe desse desamor.

Quem nos governa

Se sustenta com discursos

Onde a atitude não condiz.

Olha que baderna!

Tendo olhos difusos

A própria vida se maldiz.

Nosso berçário lamacento

Está parindo as mentiras

De quem busca o poder em vão.

Escutemos o lamento

Dos pequenos cheios de ira

Ateando fogo na nação.

As crianças da Nova Era

Estão caindo em buracos

Suicídios cometendo.

Antes bela a Vida era,

Agora se quebra em cacos

E nossos sonhos escorrendo.

Vislumbre temos,

Vendo sorrir quem foge,

A esquecer que a vida morre.

Morreremos, vemos,

Sem mudar o que se pode.

Ser imortal parece um porre.

Alguns tem certeza

Da vida além dessa lama.

Será ela mais lama ou um banho?!

Se prendem à tristeza,

Como um tesouro a que se ama,

E fogem com ela do rebanho.

Perdemos a esperança,

Que se foi pela ponte

Com as crianças que se lavaram.

Herdeiros da bem aventurança,

Fujam! Mas não de volta à fonte

Onde a dor de ser parasitaram.

Olhem! Embaixo da sujeira

Havia um diamante

Que não pertence à esse mundo!

Viu que a única maneira

Era fugir pra tão distante,

Não importa o quanto fundo.

Meus pequenos se foram,

Perderam a vida

Sem causar alarde.

Meus pequenos se foram

E eu preso à vida;

Talvez herói, talvez covarde...

Nascerá outra esperança,

Em nosso meio medíocre,

Como nasce um avatar?