Sete de Ouros
Há um quê de mistério no orvalho matutino,
aquela sensação de lágrimas deitadas à madrugada,
na tristeza de um coração em lamento,
arrependido pelos erros de uma longa estrada,
buscando paredes para escalar à luz da lua,
andando por beirais de prédios silenciosos,
um andarilho noturno na selva de pedra,
observando os poucos carros na avenida,
contando as luzes ainda acesas depois das onze,
jogando baralho com o vento,
a riqueza perdida no sete de ouros,
o sabor da sorte na espada do Rei,
o drama do azar espelhado no dois de paus,
esperando um coringa que acerte seu destino,
tentando não deixar-se cair em vãs recordações,
saudades que tanto lhe fazem mal agora,
passados que precisam ser enterrados para terem sentido,
enquanto a dama de copas lhe sorri friamente,
não tem nenhum Ás na manga para blefar,
apenas esperando o tempo passar na areia da ampulheta...