AGONIA

Cantava uma canção,
Com o ardor de uma oração,
Dizem que quem canta,
Seus males espanta,
Mas, ela, quanto mais cantava,
Mais se entrevava,
Mais triste se sentia,
Também pudera,
Na flor da primavera,
Passar o que passou,
Uma dor sem tamanho,
Se ver nas garras de estranhos,
Irreparáveis traumas,
Para o corpo, para a alma,
Sem pai, sem mãe, perdida,
Tão novinha, ser iludida,
Vendida para o prazer,
Lançada no porão de um puteiro,
Estilhaçado roteiro,
Agonia de não viver.
Cantava uma canção,
Com todo ardor,
De uma menina-flor despetalada,
Não mais suportava,
Ser a carne que nutre,
A fome dos abutres,
Dia após dia,
Mas, ninguém fez,
Ninguém faz nada,
Para amenizar a sua dor.
E não há canção que espante,
Esse inferno de Dante,
...Deus cadê você?