Acalanto

Ouvi um canto de acalanto

Parecia mais um pranto

Tamanho o clamor

Vinha da senzala

Ao som de um tambor

Os negros enfileirados

Todos eles acorrentados

Depois de um dia de labor

Em forma de lamento

Faziam a Deus o seu louvor

As negras mesmo cansadas

Eram selecionadas

Para servir ao seu senhor

E as outras que ficavam

Eram humilhadas

E usadas pelo feitor

E aquela que não aceitava

No tronco era amarrada

Recebia chicotadas

Até ceder de dor

Como pode seres humanos

Sofrer por tantos anos

Tendo uma vida de horror

E quando não mais servia

Era vendido como mercadoria

A quem pagasse maior valor

Separados da família

A criança nunca mais via

Aquela que um dia

No mundo lhe botou

Assim conta a história

De um país que se vanglória

A custa de quem escravizou

José Paraguassú
Enviado por José Paraguassú em 30/04/2016
Reeditado em 30/04/2016
Código do texto: T5620863
Classificação de conteúdo: seguro