Choro manso

E sei, sim, que vou chorar

nas solidões perdidas das palavras

com a alma triste, e disfarçada

sem sentir no próprio olho a dor alheia

nem a carne soluçando.

Arguta dói uma dor

lancinando como bárbara companhia

e preguiçosa chega-me a morte fria

e sempre má, faz-me sua vítima.

Não mais se acende a luz na escuridão

e as palavras cansadas

nada mais dizem à solidão

e a sangram, choram e vão embora

a lugar nenhum sabido

que a cor do meu canto a veja

por entre soluços arrependidos.

Tenho pressa, passou a madrugada e é dia

e hoje apressada a alegria,

essa dama infiel e fugidia,

não me quer por perto visitada.

Eu sei que vou chorar,

mas um manso choro

para alegrar minha tristeza,

ou espantar os dissabores,

molhar a alma desvisitada,

pobre alma encantada e sem amor por perto...