Flutuaste Nas Bordas Do Meu Coração

Num canto da lagoa pereníssima

De ondas opacas, ondas sossegadas

Flutuaste o pequenino

Peixinho prateado, triste

Era embalsamado, o cadavérico,

Pelo sol insensível e águas salgada.

Ser ignóbil, mórbido refletia a solidão

Senti pena, comoção e uma tristeza

Bem diferente de todas as outras

Esta última sensação era nova.

Ele inerte flutuava nas bordas

Sem barreiras do meu coração

Penoso e desmovido era o meu ser.

Pobre pequeno peixe plumbeado

Mais se parecia a um pedaço de pau

Lançado ao acaso dos meus sentimentos

Rígido ele vinha de longe pra mim

Surgiu absorto em leves ondas espumadas

E aportou em meus olhos de criança

Provido de inocência pura, um susto

Sentido fiquei sem entender

Estendi-lhe a mão, mão pequena

Ele estava esbugalhado, de boca aberta

Seus olhos tristes, sem luz própria

Fugiu de mim para sua jornada

Era esbaforido pensei e eu ali fiquei

O sol desamarelou, o céu desazulou

As águas ficaram turvas sem perder

O brilho prateado que carpideavam

O peixinho moribundo que permanecia

Indo em sua jornada afinal, final

Nenhuma gaivota veio lhe dar adeus

E o céu permanecia limpo

Num intenso insistente azul

Alguém me gritou, era a minha vez de ir

A minha hora chegou de repente

De repente as coisas aconteciam

As coisas não marcavam hora

Simplesmente aconteciam

E o Depois quando chegou

Vinha acompanhado de uma pergunta.

Despedi-me via coração, telepaticamente

Saindo da lagoa carros passavam

Imaginei como qualquer outro menino

Pequeno, bobo e cheio de inocência

Que os animais iam para a arca de Noé.

Não olhei para trás, choraria talvez

Há momentos que quando nos vem

Não trazem manuais ou regras de uso

O peixinho morreu só, só eu fui

O peixinho prateado vagava à toa

Flutuando pelas bordas do meu coração.

Hugo Deff
Enviado por Hugo Deff em 22/04/2016
Reeditado em 22/04/2016
Código do texto: T5612861
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