Flutuaste Nas Bordas Do Meu Coração
Num canto da lagoa pereníssima
De ondas opacas, ondas sossegadas
Flutuaste o pequenino
Peixinho prateado, triste
Era embalsamado, o cadavérico,
Pelo sol insensível e águas salgada.
Ser ignóbil, mórbido refletia a solidão
Senti pena, comoção e uma tristeza
Bem diferente de todas as outras
Esta última sensação era nova.
Ele inerte flutuava nas bordas
Sem barreiras do meu coração
Penoso e desmovido era o meu ser.
Pobre pequeno peixe plumbeado
Mais se parecia a um pedaço de pau
Lançado ao acaso dos meus sentimentos
Rígido ele vinha de longe pra mim
Surgiu absorto em leves ondas espumadas
E aportou em meus olhos de criança
Provido de inocência pura, um susto
Sentido fiquei sem entender
Estendi-lhe a mão, mão pequena
Ele estava esbugalhado, de boca aberta
Seus olhos tristes, sem luz própria
Fugiu de mim para sua jornada
Era esbaforido pensei e eu ali fiquei
O sol desamarelou, o céu desazulou
As águas ficaram turvas sem perder
O brilho prateado que carpideavam
O peixinho moribundo que permanecia
Indo em sua jornada afinal, final
Nenhuma gaivota veio lhe dar adeus
E o céu permanecia limpo
Num intenso insistente azul
Alguém me gritou, era a minha vez de ir
A minha hora chegou de repente
De repente as coisas aconteciam
As coisas não marcavam hora
Simplesmente aconteciam
E o Depois quando chegou
Vinha acompanhado de uma pergunta.
Despedi-me via coração, telepaticamente
Saindo da lagoa carros passavam
Imaginei como qualquer outro menino
Pequeno, bobo e cheio de inocência
Que os animais iam para a arca de Noé.
Não olhei para trás, choraria talvez
Há momentos que quando nos vem
Não trazem manuais ou regras de uso
O peixinho morreu só, só eu fui
O peixinho prateado vagava à toa
Flutuando pelas bordas do meu coração.