O Apagar

Que a cada poesia apagada

Seja ela feita pelo descaso

Na simetria do inverso acaso

Não sofra na heresia relatada

Pois ela vive até na escuridão

Tristurosa realidade

Portentosa consciência

Escravizada pelo abandono

Como uma existência sem dono

Demonstre que nada é perdido

Se for guardado um pouco do nada.

Ela verte de todas as vértebras

Pulsa com o rancor da ausência

Mas ela retorna a mente franca

Que um dia ela quis que branca

Fosse diante do embaçar interno

(e que se fosse externo seria mesmo)

Ainda que o tempo de viver a esmo

Demonstrasse desonestidade

De viver de cegueira e insanidade

É uma arma voltada ao coração

Onde quer queira quer não

Trata-se da única ação e reação

Que nem mesmo a fortuna se apieda.

Mas não adianta que o poeta

Arca com as suas maldições

Tais o arfar das maledicências

De tantos males e suposições

Está uma alma perdida

Desbotada e descolorida

A espera de uma dor renovada

No silêncio do sofrer alheio

Que nem quisera que acontecesse

Que por mim sofresse

Ao menos tentaria amortizar

Mortificando amor

Entre os diversos paladares

Que somente a poesia

Abraçada a sinestesia

Possa proporcionar nos ares.

É uma lei do retorno

Apagar da vida

Ser apagada ou suprimida

Um brinde ao desvairar

Um deslinde a pairar

É um prospecto avisado

Sem medo de ser revisado

Ainda que seja cedo

Talvez tarde esteja

Para transformar em recado.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 12/04/2016
Código do texto: T5602455
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