A Dor Do Poeta

Passava eu a noite inteira, assentado numa cadeira de espaldar reto.

Um cão ladrava, talvez anunciando a presença de algum ladrão.

Quieto e pensativo, contemplava quatro paredes pintadas

de verde que assistiam mudas a presença de um solitário

triste no meio delas.

Olhando para o alto, tentava varar o teto com a visão profunda

a fim de obter resposta para os anseios da minha alma.

No quarto, a esposa dorme e no berço, o pequeno filho sonha.

Penso na vida e no curso dos dias de um basoquiano.

O olhos, tenho-os marejados em lágrima

Dizem que homem não chora...

É mentira pura isso nesta hora.

Deus!Quem sou?

Em silêncio observo onde estou.

E no silêncio eu me procuro.

Rasgo o coração neste verso:

Deitada em seu leito

a esposa dorme sem saber que sofro.

Em devaneio aqui na sala eu me perco.

Procuro algum consolo dentro do peito.

Desejo respostas para as perguntas que eu faço.

Não pretendo ser DEUS no lugar do Criador.

Jamais nasci para na terra ser idolatrado.

Eu quero o que querem os outros como eu.

Procuro aquele paraíso que Adão perdeu.

O paraíso que está escondido lá no céu.

Não desejo outro madeiro para pendurar Jesus!

Quero o meu caminho feito em luz.

Sonho com a glória da terra santa.

Vejo bençãos que não corrompe e seduz.

Meu Deus!Sinto pesada minha cruz.

Quem sou?

Em barro feito estou.

Vem nessa hora a velhice precoce

lembrar-me o dia da minha triste sorte.

Meu corpo vai engravatado na roupa de verniz,

decompor-se, virar pó na cal de giz.

Tornar-me-eu o pó que a Bíblia diz...

Lá no quarto, dorme a esposa

e o filho inocente sonha...

Na sala, eu me torno louco.

Viro os olhos, o pescoço torço.

Estou assentado na cadeira de espaldar reto.

No chão vejo um pequeno inseto.

Não corre, fica ali também parado.

O tempo passa, solta livre o meu pensamento.

A faca que que abre-me a cicatriz no peito

está agora adormecida em meu leito.

É a esposa por mim amada e idolatrada.

Trai as palavras feitas lá no altar do sacramento.

Aqui é que começa e se mistura o meu tormento.

Devo ou não abandonar o filho tanto amado?

Assentado na cadeira de espaldar reto,

eu me procuro...

De repente a cabeça tombo.

Vazou-me o coração no sofrimento.

De manhã a esposa querida em minha vida

veio achar-me com a cabeça sobre a mesa.

Ali a velhice precoce,

deu-me por fim o descanso da morte.

( jacques calabia lisbôa )

(poesia escrita em 1,982, tendo aqui alguma variante e motivada

por uma melancolia na alma onde me lembrei que dessa forma

faleceu o meu avô em 1.953, segundo o relato da também falecida minha avó por parte de mãe a quem eu somente chamava de madrinha.}

Jacques Calabia Lisbôa

Enviado por Jacques Calabia Lisbôa em 21/08/2008

Reeditado em 07/08/2014

Código do texto: T1138976

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comentários:

21/08/2008 16:40 - francisca de jesus freire [não autenticado]

poesia muito triste, melancólica,mas de uma profundeza de sentimentos em o autor expressa toda sua dor..Ele tem uma alma triste e cheio de lembranças que procura expressar nos seus versos bem traçados e cheio de sentimentos.........adorei sua poesia és um grande escritor, continues sempre assim as suas poesias vão fundo ao coração do leitor.

21/08/2008 12:34 - Drica [não autenticado]

Digo que escreveria estas palavras tais como estão. E digo que nenhum ser humano merece passar por essa agonia. Ainda vivo!