MENINA-MULHER

Lá está a menina...

Olhos mareados,

Garganta em brasa pelo intermitente

Soluçar,

O peito arqueado, buscando respirar.

À sua volta, encontrarás

Fragmentos de Sonhos,

Sobejos, agora putrefatos, de esperança

Longínquos sussurros de etéreas

Certezas.

Poderias, se ousasses, sentir o tremor

Que faz seu rosto converter-se numa

Hedionda máscara;

Uma das infinitas nuances do mal:

Vestígios do Amor Primeiro.

Vês a brisa brincando zombeteiramente

Com suas mechas d’ouro?

Isto fazia com ares de devoção,

Aquele Que lhe prometeu Édens,

E apresentou-a ao Inferno.

Os quase discretos filetes escarlates

Que maculam sua alva tez,

Entre as coxas,

São frutos da dor, que catatônica,

Quase não sente,

E evisceram sua alma pueril.

Lá está a menina...

Levanta-se,

Num arroubo, enxuga a face.

Amarra os cabelos Tristonhos.

Ali morre a Menina,

De sorrisos e gracejos inocentes,

Para nascer a Mulher de angústias,

Azedume e mágoas pungentes.

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 06/04/2016
Reeditado em 06/04/2016
Código do texto: T5596703
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