AMANHECER INCERTO

Vivo sob a sombra de um amanhecer incerto.

Durante trinta anos na vida tive um objetivo.

Quando ando pelos mesmo lugares que conheço

não vejo mais nenhum dos meus antigos amigos.

Pai, mãe, avós, tios, primos, amigos, irmã e até inimigos

transformaram-se em pó e jazem agora adormecidos.

Meu amanhecer é agora incerto.

Tenho em mim as marcas de mais de meio século.

Não sinto qualquer prazer no sopro do vento.

O canto do canarinho aos meus ouvidos é barulhento.

Comer todo dia o próprio alimento é um tormento.

Perdi hoje o gosto do gosto de tudo.

Sinto que por dentro estou completamente partido.

Tornei-me a tristeza em meu dia a dia.

Ao andar não tenho mais qualquer alegria.

Minha alma vive sempre momentos de nostalgia.

Escrevo sempre por ser ainda um poeta.

Passa rápido a minha vida como se fosse novela.

No meu amanhecer incerto

caiu águas que não eram a chuva.

Elas molharam e escorriam meu rosto.

Eram apenas lágrimas que desciam rolando.

Lágrimas que iam durante a noite revelando

que o meu amanhecer incerto estava de novo chegando.

( J C L I S )