A DOR DO POETA
Resumo:
Passava eu a noite inteira, assentado numa cadeira de espaldar reto.
Um cão ladrava, talvez anunciando a presença de algum ladrão.
Eu, quieto e pensativo, contemplava quatro paredes pintadas de verde que assistiam mudas a presença de um solitário triste no meio
delas.
---------------------------------------------------------------------
Passava eu a noite inteira, assentado numa cadeira de espaldar reto.
Um cão ladrava, talvez anunciando a presença de algum ladrão.
Eu, quieto e pensativo, contemplava quatro paredes pintadas de verde que assistiam mudas a presença de um solitário triste no meio
delas.
Olhando para o alto, tentava varar o teto com a visão profunda
a fim de obter resposta para os anseios da minha alma.
No quarto, a esposa dorme e no berço, o pequeno filho sonha.
Penso na vida e no curso dos dias de um basoquiano.
O olhos, tenho-os marejados de água.
Dizem que homem não chora...
É mentira pura isso nesta hora.
Deus!Quem sou?
Em silêncio observo onde estou.
E no silêncio eu me procuro.
Rasgo o coração neste verso:
Deitada em seu leito
a esposa dorme sem saber que sofro.
Em devaneio aqui na sala eu me perco.
Procuro algum consolo dentro do peito.
Desejo respostas para as perguntas que eu faço.
Nao pretendo ser DEUS no lugar do Criador.
Jamais nasci para na terra ser idolatrado.
Eu quero o que querem os outros como eu.
Procuro aquele paraíso que Adão perdeu.
O paraíso que está escondido lá no céu.
Não desejo outro madeiro para pendurar Jesus!
Quero o meu caminho feito em luz.
Sonho com a glória da terra santa.
Vejo bençãos que não corrompe e seduz.
Meu Deus!Sinto pesada minha cruz.
Quem sou?
Em barro feito estou.
Vem nessa hora a velhice precoce
lembrar-me o dia da minha triste sorte.
Meu corpo vai engravatado na roupa de verniz,
decompor-se, virar pó na cal de giz.
Tornar-me-eu o pó que a Bíblia diz...
Lá no quarto, dorme a esposa
e o filho inocente sonha...
Na sala, eu me torno louco.
Viro os olhos, o pescoço torço.
Estou assentado na cadeira de espaldar reto.
No chão vejo um pequeno inseto.
Não corre, fica ali também parado.
O tempo passa, solta livre o meu pensamento.
A faca que que abre-me a cicatriz no peito
está agora adormecida em meu leito.
É a esposa por mim amada e idolatrada.
Trai as palavras feitas lá no altar do sacramento.
Aqui é que começa e se mistura o meu tormento.
Devo ou não abandonar o filho tanto amado?
Assentado na cadeira de espaldar reto,
eu me procuro...
De repente a cabeça tombo.
Vazou-me o coração no sofrimento.
De manhã a esposa querida em minha vida
veio achar-me com a cabeça sobre a mesa.
Ali a velhice precoce,
deu-me por fim o descanso da morte.
(poesia escrita em 1,982, tendo aqui alguma variante e motivada
por uma melancolia na alma onde me lembrei que dessa forma faleceu o meu avô em 1.953, segundo o relato da também falecida minha avó por parte de mãe a quem eu somente chamava de madrinha.
( J C L I S )