Picadeiro


Meu pobre circo sem lonas
Sobras de um vendaval
Picadeiro destruído
Palhaços entristecidos
Temporal que os arrasta
Para as valas da agonia.

Amargam as bailarinas
A perda de todos os passos
Compassos desesperados
Angústia que alucina
Dor que corta as entranhas
Ante a plateia vazia.

As cortinas amareladas
Outrora guardavam surpresas
Quanto o alegre locutor
Anunciava a bandinha
Trapezista e malabares
Mágicos hoje trágicos.

As cores se desbotaram
Debandou a criançada
O homem do algodão doce
O pipoqueiro feliz
Os meninos violeiros
E sua última atriz...

Do mastro outrora imponente
Restaram farrapos dispersos
A embaraçar a saudade
Solidão que se agiganta
Farpas de toda a sorte
Ácido globo da morte.

Ana Stoppa
Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 17/02/2016
Reeditado em 18/02/2016
Código do texto: T5545959
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