Meu rascunho

Folhas de papel sobre a mesa,

no pós-chuva de uma noite tenebrosa,

refletindo o orvalho do amanhecer,

colorindo através do vidro-prisma

as margens do meu rascunho,

desenhado à carvão,

grosseiramente uma alma tosca,

niilista em sua superfície,

dolorido em sua profundidade,

de uma ferida mal cicatrizada,

pontos desfeitos em contos perdidos,

assim retratado no rangir do movimento,

rabiscos de um ser incompleto,

mil faces de uma alma atormentada,

chances desperdiçadas no esboço,

sorriso desfeito pelo devir,

lágrimas no desdém do destino,

subindo e descendo a montanha russa da existência,

culpas espalhadas pelos recantos,

gritando no silêncio de uma lauda branca e cinza,

colhendo os louros de uma derrota amarga,

meu rascunho flutuando para um mar sem fim,

nas personalidades inventadas de um falsário,

nas alucinações torrenciais de um esquizofrênico,

nos desejos desmedidos de um paciente impaciente,

correndo nas areias movediças de uma praia deserta,

movendo-se como um camaleão temeroso,

mudando de pele como uma cobra se protegendo,

tentando ser mais do que os que me foi traçado...