Mutação
minha alma escorreu
pelo bueiro como água da chuva,
na densidade do escuro
deixou de ser cristalina
misturada à lama impura
a vaidade encharcou meus olhos
turvou meu discernimento,
cega e ignorante
não fiz a curva certa
e me perdi
o amor empedrou minhas articulações
quando não o deixei fluir
para abrir passagem
a dor abriu um vale
varrendo com correnteza
as sujeiras que acumulei
vem vontade de chorar enquanto escrevo
suspeito que lágrimas invisíveis caem, pois estou seca
tal qual um sonho de dias antes num árido deserto:
um cavalo corria descontrolado sem cabeça
o cavalo tinha força
mas estava sem discernimento
como eu
aceito e transformo minha natureza
em abelha, voando pra longe
da tristeza