Distopia
Eu nasci em meio aos escombros,
soprando a foligem de meus ombros,
me escondendo entre as sombras,
vivendo dias cinza como concreto,
despedacei mentiras pelo caminho,
destruí o pouco de humanidade que me habitava,
me cobri com o manto de uma noite sem estrelas,
continuo respirando,
continuo vivendo,
continuo seguindo o curso,
por ondas nem sempre navegáveis,
tristes tormentas para marinheiros solitários,
sem mapas ou astrolábios para guiar a viagem,
contando o tempo através dos solavancos,
sentindo a maresia penetrar meus póros,
gosto de sal e amargor de uma existência vazia,
continuo respirando,
continuo vivendo,
continuo mantendo essa distopia,
trilho pesadelos transmutados em duras realidades,
quebrando os painéis de vidro que tentam me barrar,
marcando meu corpo com cicatrizes do caminho,
sentindo meu pulso sangrar num devaneio de desilusões,
ébrias cores de um deserto laranja sem almas,
correndo por falésias e abismos de cosmologias imaginárias,
continuo respirando,
continuo vivendo,
continuo me superando a cada dia...